terça-feira, 20 de julho de 2010

Obliterado


E naquela chuvosa segunda feira, Tommy finalmente acordou para o trabalho. A luz solar sempre o acordava com sua brutalidade, a apatia de um começo de semana não animava sua face, e assim, se ergueu sério para a labuta. Fez a barba e partiu para o chuveiro, a água despertava de vez sua mente e assim, percebeu algo intrigante: seu pau não estava lá. Sim! Era algo impossível de se imaginar, mas Tommy agora parecia uma maldita Barbie! Abaixo do compartimento de álcool não havia nem pentelhos, tudo liso como uma maldita boneca patricinha. Decidiu pensar em sua tragédia no ônibus, mas a ressaca não dava sincronia aos pensamentos. Alguém sentado ao seu lado comentava como o motorista dirigia e balançando a cabeça positivamente colocou seus fones de ouvidos. Durante o expediente pensou que ainda sem seu mastro sexual poderia levar uma vida comum: ter sorrisos cínicos, correr na praia e continuar bebendo. Ficou até tranqüilo quanto à bebida, porque quando chegou ao banheiro, ouviu uma voz feminina e suave chamando por ele:
- Tommy, venha para mim!
A voz ia ficando cada vez mais baixa e vinha do vaso sanitário. Aos poucos, nosso amigo foi aproximando o ouvido do vaso pelo agradável tom de voz que o chamava. Estando com o ouvido esquerdo perto do trono, a voz cessou. De repente, um jato de urina fluiu de seu ouvido e foi aliviando seu corpo. Assim, o problema estava resolvido, já tinha uma boa adaptação. Chegou em seu apartamento cansado e viu TV até dormir.
Não havia sol na terça e também não havia pernas. Assustador a principio, mas antes uma solução era necessária para o trabalho. E, pela sorte do celular ao lado da cama, uma virose foi anunciada, sendo aceita como desculpa plausível. Muitos amigos já tinham pernas necrosadas pela nicotina e eram ótimos bebuns jogadores de dominó. Pernas só o levavam a lugares onde ele não queria estar. A liberdade de não caminhar até o trabalho, igreja ou encontros familiares não era tão má. Isso foi o conforto até que ouviu a maçaneta de seu apto ser girada por seu grande amor. Rebecca entrou e quase que adivinhando se dirigiu até o quarto:
- Bom dia, Amor! A secretária disse que você não estava no escritório. Vim aqui curar te curar!
Ela sentou ao lado da cama e deu-lhe um beijo ardente. Tommy a abraçou forte e tirou seu top sensual deixando seus seios rosados a mostra. Sugou os bicos com a intensidade de um recém nascido. Sua língua enlouquecia Rebecca com movimentos circulares em seus mamilos. A excitação da moça fez com que ela pulasse em seu homem com voracidade. A língua de sua amada foi até seu ouvido promovendo completa lavagem interna tocando o cérebro amado, fazendo cócegas excitantes na mente. Tocou o queixo com a pontinha, e promoveu uma densa lambida até os lábios do futuro marido. Ficou de pé e tirou seu short com sensualidade, um short tão apertado que quase se fundia a carne, um tesão tão intenso que Tommy virou a cabeça para o lado esquerdo e a moça nem percebeu sua ejaculação auditiva no travesseiro. Num ato quase de strip, ela tirou sua calcinha e enfiou guela abaixo do moço, dando a refeição que todo tarado merecia. O suor feminino era o sabor do prazer. Dedos e língua bem usados e ela também gozou. Cigarros acesos e conversas sobre um futuro matrimônio. Ela se foi no meio da madrugada...


Consciência desperta e antes de abrir os olhos já imaginava o que tinha acontecido. Pois é, tronco e cabeça eram o que lhe restavam. Antes de revigorar raciocínio, sua mãe aparece em sua frente emburrando um canudo em sua boca:
- Você está anêmico Thomas! Beba esse suco de beterraba!
Não pronunciou uma palavra. Somente obedeceu a ordens de sua genitora. E ao terminar, só ouviu algum comentário maldito:
- Misturei seu remédio ao suco, você anda com muitas olheiras! Precisa descansar! Rebecca me disse que você vai mal no trabalho e passa a noite escrevendo essas porcarias de fanzines que não dão dinheiro! Você precisa descansar, já que anda doente, e se dedicar mais ao seu trabalho, filho!
Estático, ele pensou nos comandos sem futuro e sentiu os efeitos dos remédios até abrir os olhos novamente e se tornar uma mera cabeça. Não havia medo algum nisso. Agora era se sentia o humano mais feliz do mundo, pois havia mais nada para fazer, somente pensar. Família, trabalho e toda a sociedade: o que eles estavam fazendo? Na verdade, a questão não seria realmente essa, mas sim, o porquê de tudo aquilo existir. Era muito estranho pensar que teríamos obrigações tão ridículas. Nós causamos nossas próprias dores e alegrias, logo tudo isso está dentro de nós. Porque precisar de tanto protocolo para ser feliz? Uma cerveja, um amor ou um pensamento. Tudo poderia nos deixar felizes. Mas a sociedade adorava sentir a navalha dilacerando nossa carne com tantas falsas obrigações. Um dia de reflexão até o adormecer da primeira cabeça pensante de nosso mundinho.
Não imaginava que fosse abrir os olhos, mas era de manhã e o pior: seu corpo estava completo. Mas algo realmente ruim havia acontecido, Tommy não reconhecia a si mesmo, não se lembrava de nada. Havia apagado toda sua vida, esqueceu até de mim, seu criador. Em sua cabeça só o sonho e reflexão. Olhou no celular e eram seis da manhã de segunda feira. Foi até a janela de seu apto e gritou forte:
- Heyyy! Vocês estão me ouvindo? Heyyy!!
Algumas janelas se abriram, exibindo rostos assustados em busca da razão de tanto incômodo. Pensou que a verdade doía demais dentro de si e resolveu dar um último depoimento para o mundo:
- Querem saber? Nunca mais! Entenderam? Nunca Mais!
Tommy pulou da janela do quinto andar. Fazia pouco sol naquela manhã...

5 comentários:

  1. "Nós causamos nossas próprias dores e alegrias"... mas depositamos nos outros o mérito por isso.

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  2. erivaldo ,vc expoe em seus contos as suas vontades e perturbações ,de onde vem essa vontade louca de tantas orgias, sangues e mortes?

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  3. uau amei .. totalmente surreal .. e prende vc do começo ao fin na tela pra saber o q acontece no fim .. final supreedente !!
    parabens .ass:the poison girl

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  4. HA! perfeito..
    acabei de encontrar outro vicio!

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