domingo, 11 de dezembro de 2011
domingo, 23 de outubro de 2011
Nádegas
Masturbação compulsiva com foto de família só para entreter os membros, olhos e parentes. Eu quero uma vaquejada no inferno para agarrar deputados pelos chifres e promover um churrasco comunitário. Burro! Burro e Idiota mais uma vez. Acendo um cigarro para meus pés em chamas transformarem meu corpo em cinzas e minha cabeça ser jogada no esgoto, para que assim, eu receba meu devido valor. Souza na Cruz foi educado e para não contaminar o ambiente com meu cheiro de carne podre, esmagou minha cabeça até meu pescoço apagar.
Contagem regressiva na TV para seu cérebro explodir!O Despertador Desperta para a Dor. E se o Silvio Não é mais Santo, a Terra acabou. Megasena muda vidas, aprendi a gastar dinheiro acreditando na sorte, e isso me deu azar. Sua vida acabou, mas o que importa? Você não vale nada mesmo. Temos que entender que quando se fala em valores só existe uma lei: barras de ouro valem mais do que dinheiro. Cerveja com caldinho de sangue operário na esquina, acabou o feriado...
SATIVUS HOMINIS
O tédio é uma fase do estado decompositivo, só resta a espera por uma carne mais macia para os vermes, deitado no sofá aturando cenas desconexas numa parede pálida. Recortando pensamentos infames para serem misturados ao néctar divino e enrolados em seda fina. Acendido e tragado para pulmões enegrecidos pelo câncer generoso, a tosse tenta impedir a absorção da pureza e expele para boca um delicioso catarro podre e salgado. Secreção dissolvida com a língua tocando o céu da boca e empurrada para dentro do estômago.
A dormência muscular me faz sangrar a ponta de cada dedo para que os nervos toquem o ambiente gerando a perfeita inteiração da carne com o concreto até então inanimado. Meu cérebro fica verde e segue procriando galhos com folhas vivas expelidas pelas narinas e boca. Deitado no centro da sala, os dedos criam brotos que se enraízam no chão, a mãe natureza me doa o controle do mundo por algumas horas. Era só pensar o que quisesse, e em poucos minutos o céu se escureceu e já podia ouvir os gritos histéricos nas ruas e ver a fumaça das chamas entrando pela janela.
Um zumbi cambaleante derruba minha porta segurando na mão que lhe restava um vaso cheio de terra. Abre meu zíper e coloca o vaso em cima de minha pélvis. O Sêmen começa a jorrar adubando a terra fértil de onde minhas crias dominariam a galáxia. Clones de meio metro saiam um a um de minha virilha, marchando nas ruas com cartazes de descriminalização. Ao tocar nas autoridades, suas armas também germinavam as plantas divinas. Minhas crianças dominaram o mundo, transformando o mundo em uma raça mutante de homens negros com dreads herbáceos na cabeça, e sempre de isqueiro e seda no bolso. Aos que duvidassem de nossas palavras, bastava arrancar um pedaço capilar, deschavar e numa cigarrilha fina, sentir-se livre da hipocrisia de nossa era.
Cravado no chão eu via a parede sangrar palavras de conhecimento, eu desprezei tudo o que me foi mostrado, afinal tudo o que eu queria era a destruição do mundo para ficar com a mente mais leve. Talvez o mundo já tenha acabado no ano 2000 e nós não queremos aceitar. Terroristas do planeta Krypton, Emos de Nova York, Universitários e Moralistas inimigos de nossa base antimilitar em Cabrobró. Com tanta infeliz discórdia, é difícil acreditar que a sociedade humana ainda existe fora do Facebook.
Meus poderes naturais estavam acabando, então só restava uma solução para o mundo. Meus clones sequestam aviões do exercito e sobre cada continente derramam a verdadeira chuva ácida, feita do mais puro LSD. Meus poderes e esperma estavam concentrados em cada gota que caía dos céus. Senti pelo silêncio que a humanidade finalmente tivera seu fim. Ao soar da grande hora em meu relógio na sala, senti que havia extirpar o grande câncer humano da mãe natureza. O mundo despovoado se juntou em um único continente, povoado por um só habitante, a “Amerihuana”. Os corpos viraram adubo para minhas plantas, só assim, a humanidade se tornava útil aos meus fins. Sem mais energia, os poderes foram devolvidos e faleci no meio da madrugada, com a esperança de um super herói salvador.
Vi todos os conhecidos no inferno, mas não demorei muito na conversa, pois tive de voltar à vida. Hoje é uma linda manhã segunda feira! Preciso me foder no trabalho, só esperando a drogueiragem do próximo fim de semana...
Amorzinho 1951
Meu pai sempre me contou histórias fabulosas sobre um mundo perfeito. Ainda criança, lá pelos anos quarenta, ele devia estar indo em alguma mercearia comprar tabaco para os bons tragos de vovô quando parou e ouviu dois senhores de elegância arrojada comentarem algo sobre uma caixa onde você poderia ver outras pessoas dentro. Naqueles tempos não se imaginava que tal magia negra fosse uma mera evolução do rádio. Papai matava lagartixas sorrindo. Vivia em felicidade inocente, vivia num mundo sem televisão...
Amorzinho 1951
Capitulo I: Milagre dos Céus
Tudo começou num interior de gente franzina, castigado pelo sabor do calor. Um povoado chamado Pitu era palco de uma estranha ação divina: ao acordarem naquela segunda-feira todos os moradores tinham, em suas portas, estranhas caixas de papelão com um conteúdo anormal. Ao abrirem o presente, estranhos cubos de vinte polegadas eram encontrados e um dos lados possuía uma tela de vidro com um botão escrito “On” ao lado. Não se imaginava utilidade para tal iguaria: muita gente usou de cadeira e os mais espertos decidiram deixar o aparato na mesma caixa em que o receberam. E feitas as refeições da manhã quase todos os habitantes caminhavam pelas ruas desconfiados, mostrando que a calma havia chegado ao fim. O amontoado humano ia se formando nas ruas. Todos comentavam o fato bizarro que os afligiu naquela manhã. Beiravam nove matinais quando, no fim da principal rua de nossa vila, um cego caminhava gritando aos berros:
- O mal chegou às nossas portas! Satanás veio colocar nossas almas na caixa maldita e nos levar pra o inferno!
Todos estavam inquietos na cidade. Ninguém sabia muito bem o que fazer. Até que se notou um amontoado masculino no bar local. Algum bêbado maldito apertou o botão da caixa e, assim, uma luz surgiu seguida de uma moça em trajes sociais dentro da tela. Ela anunciava que todos na cidade tirassem seus guarda-chuvas para sair, pois em trinta minutos o toró começaria. Muitas risadas e comentários infames, pois o homem jamais adivinharia uma decisão de Deus. Nem foi preciso dizer que ao cair das primeiras gotas todos correram para suas casas e caíram de joelhos implorando explicações ao poder divino. A caixa estava certa e, se a razão estava com ela, todos deveriam consumi-la com o gozo da verdade, sentindo o tesão da sabedoria transmitida.
Não demorou muito para que todos os habitantes desvendassem o segredo da caixa: onde houvesse dor e aflição, bastava ligá-la como cura. A degeneração era para os mais variados sabores, de shoptime a monstros destruindo cidades de papelão. Tudo na cidade passou a ter horários seguindo a programação. Foi até criado um toque de recolher para S.O.S. Malibu! Aos pecadores o padre ordenava uma semana sem perder o horário político. Era a movimentação de uma nova lei via satélite onde a destruição caminhava silenciosamente, lambendo o cérebro de gente inocente e escarrando alienação direto na garganta. Não foi estranho acharem o cadáver apodrecido do velho cego a uns vinte metros de sua cabeça sem olhos. Nada poderia enfrentar o novo Deus em imagem HD: entidade divina e celeste que já preparava planos futuros, instalando-se numa fábrica abandonada no alto da colina. A programação local seria literalmente matadora!
Parte II: Dois Corações, Uma Vida!
Dez anos de estranhos ruídos vindos da antiga fábrica de IPODs e uma placa foi erguida: era a “TV Pilombeta”. Agora, o êxtase seria frenético com uma série de apresentações ao vivo e totalmente feitas dentro da emissora. Não precisávamos de ideias gringas. O mal poderia nascer dentro da própria cidade. As noites com Pamela Anderson foram substituídas pela ninfetinha Nazaré socorrendo pescadores famintos na beira do açude: menos punheta e mais ação, mothafuckers! Jornal local pingando sangue fresco com câmeras digitais mandando brasa ao vivo. Tudo tecnologia rara produzida por artesãos pitusenses. E como tudo que é sucesso recebe críticas já havia aqueles que, a exemplo do cego, criticaram a legítima informação, lançando os boatos que o próprio Exú Lúcifer era o Dono de toda a empreitada.
Mas, vamos ao verdadeiro início de nossa história. Eu tinha que criar essa coisa de ambiente e tudo mais, sei lá... Sentados numa mesa eu e você, meu caro leitor, estamos num forró pesado, daqueles em que só existem vestidos estampados, peixeira na cintura e o cheiro de alfazema empesteando o lugar. O som corria solto com “Lampião e o Trio Certeiro” fazendo a festa dos caipiras quando nossa musa entra no salão. Decote simples e uma saia rodada, de um metro e sessenta com rostinho angular, essa era Nilza Santos. Já na casa dos quinze anos era fã de Ramones com pé de serra e louca por um amor de seriado americano. Lá no canto, Eriberdo penteava o vistoso bigode. Nem é preciso dizer que, com três músicas bem bailadas, os dois corações se encaixavam tão bem quanto as pernas no chamego dançante. Só precisaram de hotmail anotado e no dia seguinte tínhamos o varão de cara lisa e ramalhete já na porta da moça. Sentado no sofá, lá estava seu pior antagonista, o Sr. Santos de trinta e oito em cima da mesa e dose de uísque servida. Simplesmente, fez o pronunciamento típico:
- Espero que você cuide da minha filha tão bem quanto você cuida dos seus ovos...
Eriberto captou a mensagem na hora e acenou positivamente com a cabeça. Antes mesmo que pudesse argumentar seus planos de vida, já foi recebendo uma proposta irrecusável:
-E outra, não quero minha filha que nem mulambeira. Eu conheço o dono da Pilombeta. Na segunda tu vai estar de paletó e gravata apresentando os esportes. E se ficar muito empolgado quando o atlético pitusense tomar gol do CSE, se acostume a viver com um bago só!
Coisa de um mês para a moça estar de véu e grinalda. Na noite de núpcias, o quarto estava à luz de velas com um globo colorido lançando um clima de cabaré ao ambiente. Odair José nunca foi tão especial para um love das antigas. Eriberto sentou a beira da cama e sua esposa se pôs de costas para que ele fosse desatando cada nó com ternura. O traje branco caiu e expôs um formoso corpo moreno. Delicadamente ele alcançou os ombros da moça com as duas mãos e foi descendo devagar, quase sem tocar a pele, só para provocar arrepios. As nádegas de sua musa estavam na sua frente chorando por beijos insaciáveis. Mas, ele resolveu ser mais ousado e pegando-a pela cintura colocou sua manequim de frente e com sua língua se aproximou a mais ou menos um palmo da xana de sua vida, totalmente raspadinha. Puxou forte o ar para também sentir um frio na espinha com aquele úmido cheiro de bacalhau. O amor era fétido e salgado, mas alucinante... O esposo estava decidido a cumprir uma das mais duras missões da vida conjugal: dominar sua amada somente com os poderes da língua. A baba escorria de sua língua a um centímetro do clitóris quando os dois ouviram um copo quebrando e olharam para o fundo do quarto avistando uma mesa. Nela estávamos sentados você, meu caro leitor, e eu. Agora, eu te pergunto: Porra, essa merda está rolando lá pela década de cinquenta, então naquele tempo até a sacanagem era santinha. Realmente o sexo fedia mais que o comum e, pior, nada de prestobarba! A pentelheira era flamejante!
Vamos cobrir esse corpinho feminino com uma camisola até os joelhos e encher essa história de “Eu te Amo!” e “Vai! Entra em mim, amorzinho!”. Mãos na cintura num clássico papai e mamãe e, assim, a carne era unida num ritual nupcial. O “felizes para sempre” realmente era pra ser cumprido. O sexo não havia vencido o peludo amor...
Houve um grande atraso no início da emissora e Eriberto começou seu emprego algumas semanas depois de se mudar para sua singela casa no subúrbio. E de presente herdou do sogro uma mobilete para subir a colina.
O programa esportivo durou pouco. Acharam melhor substituí-lo por um talk show. Dessa forma, por quatro horas seguidas, nosso herói era o líder do “Beto Show!”, grande diversão diária da população com entrevistas e clássicos musicais que iam do At the Drive-in a Chico Buarque. Era um esplêndido começo de carreira para o moço de vinte e cinco anos incompletos que sonhava em ser radialista e agora tinha seu plano de carreira elevado à milésima potência.
Já que o labor consumia muito a mente do esposo, Nilza passava o dia cuidando dos afazeres domésticos. Sempre preparava os pratos favoritos de seu amado para o jantar. E, como o programa ia das 18h até as 22h, Eriberto muitas vezes não chegava nem a provar tanto o jantar quanto a esposa, de tanto cansaço. O sacrifício profissional sempre falando mais alto que os sentimentos. Desde aquele tempo as pessoas não se cansavam de ser estúpidas...
Parte III: O Telejornalismo Vampiresco
O Beto Show já tinha sido ampliado para seis horas diárias e Eriberto ainda tirava mais algumas horas para se entupir de anfetaminas e álcool para pegar no tranco. Um grande talk show sempre tem um magnífico drogado no comando. Como a cidade era pequena, todos já possuíam uma foto com seus astros locais. Quem fosse da TV Pilombeta e caminhasse nas ruas sozinho era atacado por ninfas e fãs buscando adentrar nas intimidades do show business. Nosso herói praticava seus primeiros erros no auge de sua carreira: o grande Beto considerava papar menininhas parte de seu trabalho artístico. Alguns corredores da emissora cheiravam a sexo fresquinho. A orgia televisiva já era bem real naqueles tempos e contaminava a alma de quem caminhasse lá dentro com o semblante de estrela de TV.
Um dia, ao sair de sua apresentação, Eriberto achou em seu camarim um presente espetacular: alguma fã havia deixado uma boa garrafa de vinho para que nosso artista se deleitasse na ebriedade da fama. O Sr. Famoso abriu a garrafa e foi caminhando pelos sets de gravações até passar pelas gravações do programa que seguia depois do seu: Jornal 51 era a informação que todo povo precisava em seu fim de noite. Muitos até ficavam entristecidos pelo jornal só passar tarde da noite, mas rondavam boatos que a apresentadora não gostava de estar acordada pelo dia, que sua pele era sensível demais para o solo nordestino onde era recém chegada...
Eriberto parou para ver aquela magnífica apresentação que ia das 22h até a meia noite. Viu também que nos intervalos para comercial de margarina a sedutora Lilith Bezerra não parava de encará-lo com aquela cara de luxúria. Ao término do programa, ele se aproximou com olhos tímidos. Sabia que não estava em uma situação de fama, estava de igual pra igual com uma companheira de estrelato. Fez algum elogio besta e simplesmente recebeu a ordem de estar no quarto da moça em vinte minutos. Como era nova na cidade, Lilith aproveitou para se hospedar em uma das salas vazias dentro da emissora. Beto bateu na porta que se abriu sozinha como que em um passe de mágica. Seu olhar hipnotizado decorava cada curva da moça sentada na beira da cama.
- O meu vinho acabou!- Exclamou meio tonto.
- Abra o frigobar e pegue outra garrafa! As taças estão dentro do armário.
Nosso bebum star ficou intimidado com a suíte: quarto escuro com espelho no teto e janelas lacradas. O ambiente era propício a morcegos sedentos pelas trevas sexuais. Talvez os boatos maldosos sobre a moça viessem de sua decoração peculiar. Após abrir a garrafa, Eriberto teve um curto caminho para um raciocínio bem esticado. A fama não existiria dentro daquele quarto e, então, onde habitariam as juras de amor por Nilza? Ele realmente estava caindo na podridão adulterial. Quando imaginamos os casórios mais antigos pensamos em um mundo bem idealizado: sem traições e uma vida bastante regrada seguindo as leis do amor. Mas é bom termos a decepção de que as traições e cagadas existiam da mesma forma, só que por todo o tradicionalismo e machismo ia tudo pra debaixo dos panos. Esposas se fingiam de cegas e não existia um Orkut ou Livro das Faces filha da puta para todo mundo ver recados das amantes. Já vi muita gente se foder por causa de redes sociais e messenger. Aos mais espertos, só restava criar profiles e emails fakes para assim tentar a vida dupla. Acreditar que isso dará certo é meio babaca porque, quase sempre, o sucesso das primeiras traições deixa o cônjuge traidor seguro de seus atos e, assim, a cautela inicial vai se dissolvendo até acabar num tribunal para dividir os bens, seguido pela cena de um dos dois chorando num ombro amigo, segurando uma dose de cachaça misturada com arrependimento. Não que Beto fosse um cabra safado, mas vamos dar uma colher de chá! Afinal, ele pensou no grande amor de sua vida. Iria tentar transformar a situação num simples papo de amigos, um papo meio quente, daqueles só para testar os limites da conversa.
Ao abrir o vinho e se sentar, não se conteve e já se pronunciou:
- Eu não deveria estar aqui, eu sou casado!
- Eu também sou casada, mas meu marido está longe. Bem longe...
Ambos balbuciaram algo sobre seus casamentos. Ele não entendeu bem a história de um marido europeu que trabalhava numa empresa que lidava com sangue. Achou que fosse algo sobre doação. O entendimento piorou quando foi explicada uma falência com a chegada de uma nova empresa chamada “Crepúsculo S.A.” que havia destruído os negócios do Sr. Vlad Bezerra.
Essa nova garrafa de vinho possuía um gosto forte, uma estranha marca chamada “Bloody” e vinda dos países baixos. Lilith subiu de joelhos na cama e disse que queria fazer um teste de tato com seu candidato a luxúria. Tirou um lenço vermelho do sutiã, vendando a vítima. Muitos “Não” estonteantes no meio de uma luta pela honestidade e nosso herói acabou quebrando a taça em sua própria mão. Tentou tirar a venda para tentar se auto-socorrer do pecado, mas ela segurou seus dois pulsos:
-Eu cuido disso, Sr. Beto Estrela!
A musa parecia não ligar para os cacos de vidro e começou a lamber o machucado inteiro. Enfiou o polegar sangrante em sua boca, delicadamente, e fez movimentos boqueteantes para delírio de Eriberto que se deitou sentindo uma suavidade em seu corpo. Sentia mordidinhas leves na barriga misturadas com toque de língua feminina tocando seus mamilos, subindo para uma boa lambida no queixo até que sentiu um beijo. Puxou a venda da face para tentar impedir o fato e deu de cara com dois lindos olhos azuis encarando os seus. Ouviu uma ordem que o tirou de tempo quando pronunciada:
- Agora, você vai relaxar e deixar que eu cuido de você!
Deitado na cama ele sentiu a força daquele olhar e o sono da hipnose chegando rapidamente, só dando tempo de observar o espelho no teto e perceber que só havia seu próprio reflexo...
Ao nascer do sol ainda estava no quarto, porém sozinho. Nenhum bilhete, nenhum sinal de seu algoz; apenas uma mancha roxa no pescoço. Achou óculos New wave em cima de um criado mudo e cruzou os corredores com um silêncio reflexivo. Montou na mobilete com o olhar largado ao nada. O amor conjugal agora lhe gerava dor e angústia. Se o amor dói, aliado a uma ressaca de vinho, ele pode destruir um homem! Sendo pior que tudo isso chegar em casa correndo o risco do chupão no cangote destruir seu casamento...
Parte IV: Amar é Compreender!
Sim, ela estava sentada no sofá como se vivesse largada ali por séculos. Já imaginamos a clássica cena: acordar de madrugada e, pela primeira vez, a esposa olhou para o lado e não sentiu o bafo etílico de seu eterno amor. Muitas vezes acordei depois de uma noite de amor e olhava para alguma namorada ao lado. Ela geralmente estava em um sono profundo virada para meu lado. Costumava lhe dar um beijo e sentir aquele gosto desagradável de bafo. Mas esse era o melhor amargo do mundo: a pureza de se sentir bem acompanhado por um grande amor e transar sentindo que todo aquele sentimento era real. Divertido até pensar que estamos acordados vivendo o que todos os adormecidos estão sonhando. Mas então, sentada e de olhos vermelhos, lá estava uma mulher de coração bem partido...
Eriberto sentou ao seu lado e quando começou a esboçar alguma frase de desculpas foi interrompido:
- Você me ama?
- Desde a primeira vez que senti o cheiro do seu suor junto ao meu!
- Eu acredito em você!
O beijo selou qualquer questionamento ou explicação. Eles fizeram um amor intenso. Sem timidez ou tara, sexo movido a sentimentos sinceros. Com olhares, que se cruzavam, levando-os a mais íntima articulação de seus corações pares.
Que mentira mais feia! É, sinto muito enganá-los novamente. Porra, o bebão chegou com uma puta ressaca de vinho. Tudo rolou até a parte do beijo, mas o pau não subiria nem com uma rezadeira benzendo aquele troço. Beto foi para o quarto tomar seu banho. E, durante o cair da água, ficou pensando que Lilith era a maior cachorra deste planeta. À noite ela ia se foder na mão dele, mas até essa hora chegar nosso adúltero caiu na cama como uma pedra, para ter os piores pesadelos com um corno de capa preta querendo chupar seu sangue...
Parte V: El Patron
Ao chegar à recepção o sangue fervia de ódio contra Lilith. Mas tudo virou decepção quando os fuxicos do porteiro denunciaram que a Condessa Europeia havia pedido demissão. E quando chegou ao camarim uma figura vista por poucos estava sentada em sua cadeira. O patrão estava a sua espera...
Seu nome não era segredo, o Dr. LUCIano FERnando Mendes trajava seu melhor paletó: um risca de giz impecável. Meio baleado pela ressaca, nosso herói nem quis questionar a cauda balançando fora das calças de seu chefe. Como única atitude abriu a janela para diminuir o odor de enxofre (perfumes franceses são mesmo estranhos), mas quem era ele para chamar o patrão de fétido?
- Meu jovem, sinta-se privilegiado! Hoje é a sua grande chance. Com a demissão da Sra. Lilith decidi estender seu programa por mais algumas horas!
- Muito obrigado, Sr. Luciano! Mas...
Colocando o indicador no meio da boca em solicitação de silêncio, o mandachuva demonstrou ser inquestionável em sua decisão. Deve ser uma espécie de sorte grega um funcionário ser presenteado com mais trabalho. Na palma da outra mão, o tinhoso escondia um brinde mefistofélico: um estranho pó branco foi ofertado para consumo imediato. Aquela velha nota de cinquentinha enrolada em canudo e Beto provou o bright do capeta. Parecia que a coisa ia das narinas direto para o cérebro. Beto sentia as gengivas dormentes e uma louca vontade de correr uma São Silvestre. Estava apresentada a fórmula para aguentar tanto serviço. Mais um cocainômano psicando no império televisivo servindo de corpo e alma ao mestre da rebeldia, aquele que negou o paraíso em troca de conquistar nossa audiência...
E assim se seguiram as sessões de tortura ao vivo. Beto já não era o mesmo em suas apresentações. Seu nervosismo e irritabilidade eram bem visíveis, a audiência não agradava e, pior, em casa não existia mais vida conjugal, afinal só lhe restava preparar a programação e algumas poucas horas de sono. Os olhos sem vida de sua esposa indicavam que tudo o que haviam lutado por tantos anos para manter havia desmoronado em prol de um ofício escravo para o cramunhão em pessoa. O talk show de sua vida não era tão animador quanto na ficção, a novela do mundo real não tinha mais sabor de margarina, a cocaína trabalhista envelhecia seu coração rapidamente até o dia da grande bomba atirada por sua cônjuge:
- Beto, vou voltar para a casa de papai!
Ele ficou em silêncio olhando nos olhos daquela que, um dia, foi a razão do seu miserável viver. Homens precisam de situações criticas para entender melhor essas situações de relacionamento. Às vezes, quando nos damos conta da cagada feita, as donzelas já se foram e, no fim, só nos resta tentar aprender alguma maldita lição pra melhorar o futuro ou continuar na merda masturbando carências com a deliciosa psicologia do Porntube ou Twitcam. Por alguns segundos de reflexão talvez tivemos o primeiro marmanjo a perceber que sua vida era salva pelos sentimentos e não por encher o rabo de dinheiro.
Ele foi obrigado a uma última cartada para a redenção:
- Hoje vou pedir demissão! Amanhã vamos nos mudar dessa maldita cidade!
Nilza, pela última vez, resolveu ter fé nas palavras de seu esposo. Quase sempre, casórios são mantidos por parte de esposas esforçadas pela fé no love das antigas. Isso é muito bonito de se ver. Uma dedicação extrema, um zelo para reconstruir o castelo de cartas que é o matrimônio. Em alguns casos vemos alguma mulher de meia idade com medo de que não arranje mais ninguém que faça um serviço completo na cama afinal, o bucho já está quebrado e os peitos já servem até de travesseiro, um alto risco de felicidade a base de Prozac. Mas estamos apresentando o amor, sensação pura e seminal com o viço de emoção e sabor de chocolate. Ela acreditou, teve fé pela derradeira vez que tudo dito pelo marido era sincero e se pronunciou simples e direta:
- É sua última chance!
Pegou a mobilete para seu último programa. O Show business estava morto para o último romântico. Finalmente, ele havia percebido que precisava voltar ao mundo real e sumir de vez da fantasia criada pela caixa amaldiçoada. Pitu, que já não estava tão empolgada com o talk show, poderia ganhar algo novo e, para o bem de todos, esquecer de uma vez um velho astro junkie. Mas sabemos que nessa história de televisão satânica, a fama tem um preço alto! E quando você mexe com o tinhoso, com certeza sua alma está em jogo...
Parte VI: O Canal do Coração
E começa o último Beto’s show! O aperitivo familiar de uma longa noite de sábado. Sem Zorra ou Altas Horas, sem Descarrego ou MMA: apenas um nervosismo acima do normal e um pózinho mágico em excesso para aturar o inferno. Parecia que LUCIano FERnando sabia da decisão de Eriberto. O próprio demônio estava sentado em uma cadeira dourada com uma loira e uma morena abanando o ar abafado do set de filmagens e na palma de sua mão direita algum artefato misterioso. Bom, eu estava passando com meu copo de cachaça mineira e, como sou invisível, fui dar uma conferida no popozão das moças e vi que na mão do chefinho estava um coração de galinha. Mas essa Morena! Que rabeta do cara... Oops! Isso é outra história...
Era uma da manhã quando Garrincha acabava de falar sobre seu alcoolismo e, então num olhar fixo para a câmera três, Beto começou sua declaração:
- Bom, já que estamos chegando a nossa última atração, venho avisar ao meu grande público pitusense que esse também será meu último programa. Foi maravilhoso estar com vocês por todos esses anos e serei eternamente grato a todo o carinho que recebi de minha plateia...
Apesar do fracasso a cidade se sentiu um pouco chocada com a notícia. Era como se o Faustão se aposentasse ao vivo. Uma coisa boa, mesmo assim chocante. O fim de Estrela Televisiva era acompanhado atenciosamente, em especial, da própria casa de Eriberto. Nilza segurava seu lencinho derramando lágrimas de felicidade. Um novo começo para um amor tão bonito. Viveriam distante dali quase que um final de uma novela das oito, dessa vez uma novela real e com sentimentos vivos...
Aquela morenaça ao lado do Patron (acabo de descobrir que era garota de programa e consegui pegar o hotmail) sacou da calcinha um saquinho vermelho cheio do pó da destruição. Ela o derramou em cima do coração na palma do mestre. Eriberto estava no meio de um concurso de piadas sem graça quando Lucif, quer dizer, nosso maligno mentor Luça, fechou a mão devagar até esmagar o órgão junto ao pó. Beto sentiu um aperto sufocante no peito. Em sua mente tudo começava a escurecer e só pensava no dia do primeiro encontro com sua esposa. Mal teve tempo de lembrar daqueles amados olhos antes de colocar a mão no peito e cair no meio do palco ao som de risadas forçadas e uma plaquinha de “Aplausos!” piscando. Era realmente o fim de tudo. A criatura de mil nomes havia destruído a magia construída ao longo de um digníssimo matrimônio. Eriberto morria, ao vivo, no dia 2 de Abril de um ano esquecido pela cana que tomei...
Nilza também apagou com a cena e, passados os efeitos de tranquilizantes, o funeral já havia ocorrido sem sua presença. Nunca aceitamos a perda do amor de nossas vidas. E agora a viúva não tinha mais palavras para pronunciar: a mudez a tomou pelo resto de seus dias. Sem razão e sem sentido, morando numa casa abandonada por todas as coisas boas. Foi até o quarto e procurou a melhor foto de seu marido no álbum de casamento. Recortou a imagem com carinho e colou na tela de sua televisão desligada. Eriberto estaria ali até o fim de seus dias, sorridente e de olhos brilhantes como no dia mais feliz de suas vidas. E assim, sucedeu-se um estranho caso de amor baseado em boas alucinações. Até o dia de nossa eterna amada virar uma velha esquizofrênica e deprimente, dando seu último suspiro de olhos fixos naquele que havia sido o par perfeito de sua existência...
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