domingo, 23 de outubro de 2011

SATIVUS HOMINIS


O tédio é uma fase do estado decompositivo, só resta a espera por uma carne mais macia para os vermes, deitado no sofá aturando cenas desconexas numa parede pálida. Recortando pensamentos infames para serem misturados ao néctar divino e enrolados em seda fina. Acendido e tragado para pulmões enegrecidos pelo câncer generoso, a tosse tenta impedir a absorção da pureza e expele para boca um delicioso catarro podre e salgado. Secreção dissolvida com a língua tocando o céu da boca e empurrada para dentro do estômago.
A dormência muscular me faz sangrar a ponta de cada dedo para que os nervos toquem o ambiente gerando a perfeita inteiração da carne com o concreto até então inanimado. Meu cérebro fica verde e segue procriando galhos com folhas vivas expelidas pelas narinas e boca. Deitado no centro da sala, os dedos criam brotos que se enraízam no chão, a mãe natureza me doa o controle do mundo por algumas horas. Era só pensar o que quisesse, e em poucos minutos o céu se escureceu e já podia ouvir os gritos histéricos nas ruas e ver a fumaça das chamas entrando pela janela.
Um zumbi cambaleante derruba minha porta segurando na mão que lhe restava um vaso cheio de terra. Abre meu zíper e coloca o vaso em cima de minha pélvis. O Sêmen começa a jorrar adubando a terra fértil de onde minhas crias dominariam a galáxia. Clones de meio metro saiam um a um de minha virilha, marchando nas ruas com cartazes de descriminalização. Ao tocar nas autoridades, suas armas também germinavam as plantas divinas. Minhas crianças dominaram o mundo, transformando o mundo em uma raça mutante de homens negros com dreads herbáceos na cabeça, e sempre de isqueiro e seda no bolso. Aos que duvidassem de nossas palavras, bastava arrancar um pedaço capilar, deschavar e numa cigarrilha fina, sentir-se livre da hipocrisia de nossa era.
Cravado no chão eu via a parede sangrar palavras de conhecimento, eu desprezei tudo o que me foi mostrado, afinal tudo o que eu queria era a destruição do mundo para ficar com a mente mais leve. Talvez o mundo já tenha acabado no ano 2000 e nós não queremos aceitar. Terroristas do planeta Krypton, Emos de Nova York, Universitários e Moralistas inimigos de nossa base antimilitar em Cabrobró. Com tanta infeliz discórdia, é difícil acreditar que a sociedade humana ainda existe fora do Facebook.
Meus poderes naturais estavam acabando, então só restava uma solução para o mundo. Meus clones sequestam aviões do exercito e sobre cada continente derramam a verdadeira chuva ácida, feita do mais puro LSD. Meus poderes e esperma estavam concentrados em cada gota que caía dos céus. Senti pelo silêncio que a humanidade finalmente tivera seu fim. Ao soar da grande hora em meu relógio na sala, senti que havia extirpar o grande câncer humano da mãe natureza. O mundo despovoado se juntou em um único continente, povoado por um só habitante, a “Amerihuana”. Os corpos viraram adubo para minhas plantas, só assim, a humanidade se tornava útil aos meus fins. Sem mais energia, os poderes foram devolvidos e faleci no meio da madrugada, com a esperança de um super herói salvador.
Vi todos os conhecidos no inferno, mas não demorei muito na conversa, pois tive de voltar à vida. Hoje é uma linda manhã segunda feira! Preciso me foder no trabalho, só esperando a drogueiragem do próximo fim de semana...

Nenhum comentário:

Postar um comentário