terça-feira, 4 de agosto de 2009

Desintonias


Só podíamos afirmar que eram abençoados por ter um filho tão belo: o pequeno Matheus era a maior e única preciosidade que dona Andréia e Sr.Vicente poderiam ter nesta vida tão severa. Desde a oportunidade para construir imensos aranha céus na capital, Vicente ficou meio inquieto, porém seus olhos brilharam ao rodar da chave e seu corpo quase se desfaleceu ao ver o interior de sua nova morada no Maravilhoso edifício Alfredo Gaspar de Mendonça. Singelos prédios de três Andares e doze humildes apartamentos... O choro evadiu sua face ao ter finalmente um teto para esposa e filho, agora estava inserido em uma bela sociedade, em uma maravilhosa favela futurista chamada Conjunto Habitacional.
Um colchão de casal para os três representava o ponto de partida de uma nova vida na capital. Amanheceu, um beijo na família e lá se foi o homem da casa ao seu serviço. Enquanto isso, Andréia resolveu banhar sua prole. Finalmente havia se acabado o tempo de banhos com a cuia e um chuveiro era uma nova delicia para Matheus, que em breve completaria seus doze anos e segundo o pai já seria um “homem”. Agora a nobre criança podia sentir o sabor de sua primeira chuveirada e muito atenta ao seu filhote, Andréia começou a ensaboar o sentido de sua miserável vida. Matheus sentia o sabão sendo esfregado com muito carinho em sua face e escorrendo em singelas bolhinhas pelos ombros. Empolgada com a máquina de chuva, sua mãe também resolveu se despir e caiu embaixo de tal diversão, afinal não havia nada que o mocinho a sua frente não houvesse visto em alguma fase de sua vida. Em ritmo de festa, o sabão freqüentava ambos os corpos até que nossa querida mamãe percebeu uma forte ereção na criança. Ficou confusa, não entendia tal amadurecimento, sentia que possuía um coração de mãe, porém, como toda exemplar mulher de família, tinha suas perversões guardadas dentro de si. E, agora, a criança sentia a puberdade ferver em sua alma, com a limpeza descendo em movimento circulares até apalpar duas bolinhas em pêlos crescentes com o mais puro carinho feminino. Mamãe sabia fazer aquilo muito bem, ela ouvia os pequenos gemidos se sua cria, que havia fixado os olhos nos seus e impulsivamente fazia movimentos para frente, quase que simulando o lado podre dos adultos. No ápice de gostosura, Dona mamãe desligou o chuveiro, ordenou que o jovem se enxugasse e saísse do banheiro, observou tudo com um sorriso mecânico e, ainda sem entender nada, ele a obedeceu. Com sua retirada o banheiro, o chuveiro foi ligado e voltou a jorrar consciência sobre Andréia, que olhava para o sabonete questionando os limites entre o pecado e o prazer...



Ao chegar do stress diário, o bom brasileiro se depara com o sono de ambos: sua esposa um pouco encolhida no colchão e no chão da sala, seu filho debruçado sobre um monte de lençois com um travesseiro. Começou a acariciar o corpo quase que desnudo de sua amada (que imaginava sustentar suas vergonhas com uma mísera calcinha):
- Você não sabe o fogo com que cheguei hoje!
- E você não imagina como estou cansada, pára de me bulir!
Com um “Puta!” mental, nosso herói vira-se para o lado e reflete sobre suas misérias amorosas até soltar os primeiros roncos.
E finalmente, o aniversário de Matheus havia chegado, e com ele, o presente que todos precisavam: um aparelho de televisão adentrava ao recinto e fora colocado sobre uma cadeira na sala. Vida nova e agora com muitas cores. Todos se sentaram no chão e sintonizaram algum programa de auditório até o sono chegar, até porque o colchão já havia sido transferido para a sala, assim todos poderiam aproveitar incessantemente os prazeres de sua nova realidade. E como, único pedido de aniversário, o inocente pediu para ficar em casa degustando alguns desenhos animados.
As coisas já não andavam tão boas na vida conjugal: Andréia se mostrava cada vez mais fria com seu esposo e o mesmo, começava a chegar em casa cada vez mais tarde e com odores etílicos irritantes. E, por descuido de ambos, o jovem Matheus já havia perdido o ano, em plenas chuvas de maio. O que lhe rendeu uma boa surra, porém válida, em troca de infinitas horas de seu mais novo amigo televisor. Ao raiar do sol e engasgando com seus próprios ruídos, Vicente adorou uma surpresa: seu pau estava em ponto de ataque. Começou a “amolengar” a esposa que cedeu aos seus carinhos. Ao introduzir o devido mastro sertanejo, as antigas empolgações voltaram e Andréia gemia baixinho e em certo tom de caridade nupcial, resultando no pior: a dor. Vicente sentia aquelas carnes, que antes só faltavam jorrar-lhe lubrificações, maltratarem seu membro e tudo foi cortado bruscamente:
- O que porra está acontecendo com você, mulher?
- Eu acabei de acordar seu animal, deveria pensar mais no seu trabalho e menos em safadeza...
- Num gosta mais d’eu? Exclamou indignado.
- Sei não...
Levantou em silêncio e foi para o chuveiro, não aguentava a idéia de sustentar seu palácio com a antipatia da esposa. E agora, passeando pelo lar, percebia que Matheus havia levado sua quatorze polegadas para o quarto e lá estava ele deslumbrado. E o mais estranho, a imagem estava completamente fora de sintonia. Ao passar de toalha e já esfriado pela água, jogou ao vento:
- Esse moleque está ficando doido!
Mesmo assim, a decadência de seu amor o deprimia bastante, e antes de sair, lançou em cima do colchão sua parte do soldo para as compras e ao bater da porta, tomou uma firme decisão: nada de trabalho, iria encher a cara.
Ao voltar com sua feira, Andréia não teve saco em aturar a criança tão obcecada pela televisão, sentou-se ao lado do jovem e decidiu ver os lendários programas femininos que tanto moldaram a mulher moderna, com a nova vida na capital, ela deveria saber qual seria o sentido de sua existência em algum programa matinal. Porém, ao tirar da desintonia, Matheus se rebelou:
- Porque você tirou o prazer?
- O quê, filho?
- Você só vai aprender na marra! Exclamou em tom de birra.
- Cuidado como você fala moleque ou quer tomar uma surra?

Indignado Matheus se levantou e sumiu de vista. Isso pouco importava, pois as primeiras receitas de sobremesa já apareciam na máquina sensual. Um final de manhã com muito sol, perfeito para se pensar em delicias para o almoço, Andréia estava realmente empolgada para ser uma legítima dona de casa urbana, talvez fosse tanta empolgação, mas tanta, que tudo aquilo foi se transformando em uma forte dor na nuca que ia aumentando e gerando seu desmaio, dando somente tempo de ver Matheus segurando uma imensa panela de pressão nas mãos e sorrindo de olhos fixos em seu corpo.
Aos poucos a consciência ia voltando, até que se percebeu em frente ao televisor, amarrada em uma cadeira. E de supetão, o sangue do seu sangue aparece sorrindo:
- Matheus, tenha certeza: eu vou te aleijar de uma surra!
- Mas, mamãe... Ele disse que ia ser bom!
- Ele quem? Seu porra!
- O Silvio da TV! Ele me explicou tudo: se eu te fizer conversar com ele, nós vamos tomar todos os banhos que quisermos juntos! Vai ser bom! Eu quero meu passarinho duro de novo! E ele vai fazer tudo isso! Acredita mamãe! Ele vai...
Andréia não entendia nada até o jovem sumir de sua frente. Repentinamente, sentia-o massageando seus ombros, e assim, Andréia rogava eternas ameaças de sua boca tão suja para as crianças. Sentia que suas mãos foram descendo pelas saboneteiras até tocarem seus seios. Agora, o amor de filho era reprimido pelo tesão do homenzinho de seu Vicente. E assim, as pragas de mamãe viraram lágrimas intensas, ela percebia o monstro que havia criado. Ele massageava com carinho aquelas tetas secas e decaídas, até que em meio ao choro, Andréia não aguentou tanta tortura e novamente desmaiou. Em seu inconsciente, os piores pesadelos eram montados: estava sendo estuprada por Matheus em alguma espécie de circo sadomadoquista cheio das piores aberrações humanas. Criaturas deformadas, cenobitas do inferno e o pior, sua criança comandando o incesto em movimentos rígidos e brutalmente desorganizados ao ponto de deixar escorrer sangue maternal...
Ao acordar, viu o aparelho ligado na divina desintonia. E Matheus, percebendo a sua negação a ver aquela maravilha, segurou a cabeça de mamãe pelos cabelos apontando para a TV, e com sua mão livre puxou com força suas delicadas pálpebras. Mamãe se negava a olhar diretamente para aquele aparelho satânico, mas ao final se rendeu. E ao centrar a visão na tela, sentiu uma forte dor nos glóbulos oculares, pareciam que duas agulhas penetravam sua visão, e assim tais agulhas injetavam o mais doce prazer. No começo, todos resistem, mas ao final, todos são escravos da telinha colorida. Era algo incompreensível para a mente de uma misera lavradora: seu corpo estava leve, a dor se transformava nas maiores chamas do prazer. Realmente o sentimento e imagens do banho vinham à tona. Porém, tudo era elevado ao máximo sentimento, uma caricia de testículos não era nada comparada aquilo. Seu antigo pesadelo se convertia ao seu favor, os mesmos cenobitas estavam lá, porém, agora Matheus estava pelado e Andréia o boqueteava com o maior tesão deste universo. Lambia aquele pau com emoções lisérgicas de mil orgasmos. E assim, aquilo nunca deveria parar, o maior prazer de sua vida deveria ser eterno.
Algumas tentativas falhas de enfiar a chave na fechadura e Vicente conseguiu adentrar em casa. Tirou suas roupas suadas na sala e foi cambaleando de cueca pela sala até o quarto. Lá se deparou com sua esposa e o filho vendo a maldita desintonia. Meio tonto foi até o aparelho e o desligou:
- O dono desta merda sou eu, e vocês não merecem usar o que é meu! Ninguém gosta de mim nesta porra!
Andréia sorriu e se levantou cedendo a cadeira ao marido, ele se sentou e ela o agarrou por trás lambendo sua orelha e descendo direto a mão para dentro de sua cueca:
- Aqui não! O menino vai ver...
- Relaxa amor, Relaxa que vou te encher de tesão!
Alucinado pela embriaguez, ele deixou que tudo acontecesse. Quando se deu conta, a televisão já estava novamente ligada naquele velho canal alucinógeno. E assim, nosso herói também se rendia a uma nova alegria em seu matrimônio e seu filho agora era um anjo de deu$. Agora, existia amor em família para todos. A felicidade instantânea guardadinha dentro da pequena caixa elétrica. Todos unidos em prol do amor.
Com o passar do tempo, uma grande pancada na porta e o síndico, acompanhado da policia, invadia o local a procura de seus condomínios atrasados, somados a ordem de despejo dos fiadores. Em cima da mesa, vários produtos apodrecidos e ouvia-se um chiado no ultimo quarto. Ao adentrar ao local, a visão da miséria enrrustida: os três membros da família sentados vendo o aparelho em desintonia. O cheiro de banheiro público incensava o local, fezes e urina por todo o chão, e o mais surpreendente, todos estavam em magreza absoluta, com o verdadeiro charme de um usuário de crack.
Ninguém sabia como reagir em tal situação, principalmente ao verem que o televisor estava fora da tomada e mesmo assim, continuava ligado. Um policial saiu em passos rápidos do hospital gritando algo que lembrava o “Pai nosso!”. Aos céticos ali prostrados, só restou dar um chute no aparelho que ao cair no chão se desligou, criando uma reação pior: os três começaram a tremer e cair no chão se tremendo no que parecia um forte ataque epiléptico. Todos ficaram apavorados e saíram a correr para fora de tal inferno. Toda a felicidade havia acabado... Realmente a vida na capital tinha mudado bastante suas vidas. A magia da TV havia sugado o que restava de suas almas. Pareciam tremer apaixonados pela alienação do prazer, alienação esta, que desaparecia de suas carcaças em violentas regurgitações de sangue enegrecido...

2 comentários:

  1. Grande tv!
    uma de suas ultimas maiores propagandas foi justamente o crack!
    Aqui em maceio o market funcionou!
    Agora eles estão investindo em num novo mundo onde todo pobre é usuario, traficante e violento como fizeram no rio de janeiro...Dê vacilo não nas ruas viu!

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