quarta-feira, 15 de julho de 2009
De Volta ao Planeta Lamma
E ao me enxergar no espelho da humanidade, eu estava representado num gordo saco de lixo. Ao dar um passo à frente, fiquei a poucos centímetros de meu verdadeiro reflexo, percebi que de algumas perfurações no saco escorria o liquido branco e visceral. Em um movimento com a cabeça meu nariz tocou o espelho, que tremeu sua superfície como águas ondulando. Fiz o formato de concha com as mãos e as introduzi para dentro desse novo portal. Quando elas retornaram estavam cheias de puro pus, para que assim, eu pudesse me remediar dos venenos do mundo. Bebi com a sede de uma larica aquele pus latente e com mais um passo a frente, eu estava diante do inacreditável...
Uma única e extensa rua rumando ao infinito e em ambas laterais, a imagem da desgraça: imensos televisores de uns vinte andares sintonizados na mais pura ignorância humana. O espaço que separava essas imensas construções formava obscuras esquinas. Esquinas estas, habitadas pelos seres mais repugnantes desde universo: a tradicional família brasileira. Criando um certo desprezo por tais figurantes olhei a longa estrada a minha frente e decidi começar minha peregrinação rumo ao nada, de olhar fixo num horizonte imperceptível. E, aos primeiros passos, sentia bíblias sendo atiradas em meu corpo, e tal fato me fez perceber que jamais deveria desistir. Afinal, sentia nas pancadas a fúria dos filhos de Deu$. E, com certeza, assim eu também estaria incomodando o Pai.
Caminhei durante anos com o sol a pino. Fome já havia me cansado de sentir e com o tempo, minha roupas já haviam se livrado de meu corpo raquítico. As fezes escorriam por meu anus, provocando ferozes feridas pelas assaduras e ao sentir necessidade de mijar, eu adorava apontar meu pau em direção de minha face, para assim, o calor ser aliviado. Era uma jornada sem sentido em busca da razão, e ao mudar a vista de relance para as imensas construções da ignorância, percebi que uma delas exibia imagens do interior de uma casa com diversos jumentos. Alguns estavam comer capim fresco, outros na beira da piscina como se quisessem exibir seus esbeltos cascos para alguém e os mais ousados simulavam sexo. Adorei tal esquina, afinal todos estavam hipnotizados a assistir tal iguaria e desistiram de me atormentar com a pesada palavra do Pai.
A cada mês que se passava, eu adquiri o hábito de arrancar um pentelho de meu púbis e o guardar na boca, para que assim o tempo não roubasse minha consciência. E pelos meus cálculos, já havia se passado cinqüenta e dois anos marchando em busca do sentido da vida, até ter meus passos travados pela incrível visão de um imenso altar ao longe. Fiquei tenso, afinal minha jornada havia chegado ao fim. Tirei forças do cansaço e corri até uma longa escadaria que dava ao topo do altar...
Com o passar do tempo, minha barba imensa só perdia espaço para meus longos cabelos, que se uniram formando gigantescos dreads sujos e meu único amigo, o Sol, transformou minha palidez anêmica na mais bela negritude. Continuei minha escalada rumo à sabedoria e ao chegar no último degrau percebo violão apoiado na horizontal dos braços um belo trono dourado. Caminhei derramando lágrimas sanguinolentas ao ver a imagem do meu descanso. Aproximei-me e percebi outra peculiaridade: o violão só possuía uma única corda. Para mim, uma única chance de mudar o mundo. Mesmo assim, não hesitei em tomá-lo em minhas mãos e sentar-me. Meu traseiro finalmente tinha paz. Passado tanto tempo, o pus já havia cansado de escorrer de minhas velhas assaduras. Olhei para todo o trajeto percorrido e avisto uma multidão zombificada ao chão. Todos os meus algozes, todos que me escarneceram ao longo do tempo, estavam lá com as faces sem expressão a me observar. Eu não sabia o que fazer diante de tal cena, e empunhando o violão em posição de toque, comecei a bater na corda incessantemente, gerando sons desafinados. E ao ressoar do ruído, lá embaixo o movimento apareceu e, em atos ferozes, começaram a rasgar suas roupas e se beijarem. Uma imensa orgia escatológica se formava ao som de minha canção de uma nota só. Famílias inteiras se unindo em prol de um fabuloso incesto eterno. Homens beijavam homens, mulheres lambiam outros mamilos femininos, todo mundo chupava todo mundo. E assim, tal humanidade feroz demonstrava que minha jornada não havia sido em vão. E com certeza, não haveria maneira melhor de descobrir o sentido da vida, se não em uma orgia que duraria algumas eternidades.
Tossi o velho catarro entalado há meia década e proferi versos divinos:
“Amor é ilusão!
Casei com Mulé de Segunda Mão.
Porque Mulé que já teve mais de um homem na vida
Não se acostuma com um homem só não...
Mas mesmo assim,
Amor volte pra mim!
Eu não me importo se você foi Arrombada
Nas madrugadas pelos canalhas... “
Sentia o sangue da felicidade escorrer de meus olhos cheios de remelas e imundar o chão com pura sabedoria. Afinal, ao pronunciar tais versos, as grandes TVs malignas ruíram até se resumirem a um imundo pó ignorante...
Lixxxxxxo: Os versos inseridos foram adaptados de canções do lendário Damião Experiença, a salvação da Anti-música brasileira...
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